domingo, 12 de dezembro de 2010

Salvadores da Pátria ¡

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A Maldição dos salvadores da Pátria ¡
(ou estória do Brasil)

                Então os portugueses fundaram a primeira capital brasileira, a cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, em uma clara referência à ideologia religiosa prevalecente na época; mas também, no que se refere ao tema dessas reflexões, invocando a ampla proteção, não só de quem os pudesse ‘salvar’, guardar, proteger, redimir, e queaindafosse coadjuvado por todos os santos, as então reconhecidas boas almas que os haviam precedido no além...

E por muito tempo, entre outras características psicológicas, os empobrecidos colonos e aventureiros lusitanos que por aqui aportaram alimentaram também o mito da volta redentora do desaparecido rei Dom Sebastião, que haveria de proporcionar a Portugale a todos os seus súditos que aguardassem com fé a sua volta triunfal, uma era de grandeza e prosperidade como nunca houve igual, sem trabalho, sem mérito, sem esforço, literalmente caída do Céu.

Também devemos mencionar o destino de Dom Pedro Segundo, um homem bom, estudioso, compassivo, cordato, mas que envelheceu – e na mentalidade daqueles que anseiam serem salvos a velhice é uma das piores pragas da natureza - e lá se foi banido com toda a família para a Europa, a terminar seus dias terrenos imerso na saudade deste enorme Império, já que não tinha mais utilidade para as elites modernas da terra brasilis, que ele tanto soube honrar e fazer prosperar.

Mas o Universo tem seus amortecedores automáticos, que funcionam na mecânica do ying-yang: Se exagerarmos numa direção, por correta que seja, surgirá um impulso de retorno ao equilíbrio rompido.  E ao humanismo renascentista, despedaçando os grilhões seculares de uma escolástica caduca, ao positivismo triunfante no ápice do racionalismo republicano, que culminou no liberalismo individualista da Belle Époque, eis que se sucede o século XX, que veio a ser o século da violência colossal, entronizando as ditaduras totalitárias anti-liberais – tanto as nacionais e socialistas como as fascistas & a caterva de mais baixo coturno.  Mas, felizmente, para os desvalidos habitantes deste imenso país sertanejo, de índole cordial, os novos tempos trouxeram apenas o paternalismo sacramentado no Estado Novo.  Portanto entendamos porquê Getúlio Vargas, um dos que tomou o poder pela força, e que por medo de forças ocultas preferiu fugir da vida a enfrentar suas conseqüências, é até hoje lembrado e reverenciado como o paizinho dos pobres, encarnação bem brasileira de dom Sebastião, o redentor.

E não é que entrementes... uiis, e nasce Lula da Silva ¡  Quem diria? Não estudou, nem trabalhou, só bebeu, e viajou.  Também não viu nada do que se passou, pois quando sóbrio viajava tanto... como poderia ter visto alguma coisa?  Porém soube embalar muito bem o velho sonho da vida mansa num barracão, distribuindo aos pequeninos muitas bolsas, repletas de arroz, farinha e macarrão. 

Mas antes veio Fernando Collor, bem apessoado, bem falante, denunciando umas tantas mazelas da época.  Todavia, como homem de seu tempo, não quisou não conseguiuescapar de outras tantas, como, por exemplo, os meios de financiar sòzinho uma campanha eleitoral que mobilizasse a maioria dos eleitores nos oito milhões de kilômetros quadrados desse quase-continente de língua portuguesa na pobre América Latina.  E foi se juntar aos apeados do poder por forças não tão ocultas assim, àqueles que não tentaram ou conseguiram, até pela relativa magreza de seu perfil, incorporar o mito salvador, numa peça de teatro a cada encenação mais patética – o impulsivo D. Pedro Primeiro, Conde d’Eu - o francês, Jânio montado na vassoura, Jango voando em fuga desabalada para as terras cisplatinas... 

O professor Fernando Henrique foi um interregno, digamos, surpreendente.  O povo pagou para ver: Moeda estável = vida boa; havíamos custado a entender que a inflação não passava de um fac-símile econômico do santo Manto de Maria, a cobrir e lavar a multidão dos nossos pecados políticos e sociais.

Todos esses homens públicos saíram ou ainda vão sair da vida para entrar na história. E o povo? Ah, o povo ¡  Vai continuar alimentando seus mitos, seus sonhos de salvação, de redenção sem maiores esforços, todos os dias, todas as semanas, na ilusão de que ganhar uma cesta básica é tudo de bom, enquanto assiste ao vivo, pelo rádio ou pela televisão, a pantomima de padres, pastores, locutores e tantos outros enviados do Senhor para os salvar... de quem mesmo?    

Darcy Othero – 03/09/2009

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