domingo, 5 de dezembro de 2010

Comunicações espirituais: Como assim ?


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O Espírito de Sistema

 

                 Cada pessoa percebe o Universo e tudo o que passa com sua maneira própria, única, o que é parte de sua individualidade.
 
                  Até aí, tudo bem.  Nada de mais.  Ocorre que a mente humana, para facilitar o viver, desenvolve rotinas, caminhos para seu entendimento e decisão, que poupam seu esforço de raciocínio frente a fenômenos parecidos a outros anteriormente estudados, catalogando-os no mesmo grupo, etiquetando-os entre os conceitos já ‘conhecidos’ por assim dizer, e deslocando sua atenção para qualquer outra coisa que se lhe apresente no momento seguinte.
 
                 Tomemos um fenômeno recorrente – inclusive em suas contestações – a comunicação com os espíritos dos mortos.  O que passa entre as pessoas que ouvem dizer sobre a ocorrência?  Podemos, para simplificar, e conforme a idéia acima de sistema, classificá-las em alguns grupos de ouvintes.
 
                 Inicialmente analisemos o provável raciocínio de uma pessoa que seja definida como materialista.  Como ela reage nesse caso?  Em seu intelecto foi construído um sistema de pensar através do qual só vale a pena considerar qualquer coisa ou conceito que seja de apreensão imediata e contínua pelos seus sentidos físicos.  Logo, na categoria ‘espírito’ de seu pensar, quando se refere a um ‘morto’, esse não corresponde a nada que tenha algum conteúdo real, verdadeiro, no sentido de existente por si mesmo, mas, no muito, a fantasias e ilusões, porque espíritos não andam aparecendo sob sua vista por aí, sem mais nem menos, à mesa, durante o café da manhã, por exemplo.  Por conseqüência nem passa pela cabeça dessa pessoa levar em consideração o que quer que um espírito teria eventualmente comunicado a alguém, exceto como obra literária ou artística para seu eventual deleite.
 
                 Em seguida consideremos os adeptos de uma crença qualquer, de uma das muitas igrejas espalhadas por aí.  Essa pessoa, como mínimo, deve acreditar que tem uma alma imortal, ou não seria crente, claro, e portanto o conceito ‘espírito de um morto’ para ela pode reter um conteúdo real; todavia seu sistema de pensar pode conter uma ou mais travas simplificadoras, do tipo: Na bíblia está escrito assim e assado, o padre ou pastor disse que aquele escrito quer dizer isso e aquilo, e no meio dessa barafunda de certos & errados essa pessoa, toda vez que ouve falar em ‘comunicação com os espíritos dos mortos’, joga essa idéia e tudo o que se lhe relacione para um limbo mental das coisas malditas, diabólicas, se persigna na reafirmação da sua crença, e perde uma boa oportunidade de se instruir, coitada ¡
        
        Mas, dentre os crentes nas almas, temos também os que poderíamos denominar de esotéricos, agrupáveis em diversas escolas, mais ou menos ‘secretas’, como eles mesmos preferem se apresentar.  E dentre essas seitas tomemos os teósofos, que acumularam reflexões extensas e profundas sobre o além da vida na Terra.  A ‘comunicação com os espíritos dos mortos’ faria sentido para eles?  Talvez não, pois parte de seus estudos pontua, provàvelmente com muito acerto, que o ‘espaço’ espiritual está regido por leis próprias; que o ser humano se compõe de mais de um princípio ou camada ou dimensão (até sete, conforme a escola esotérica); que após a morte o núcleo mais sutil e imortal dessa ‘cebola’ de seis cascas e um núcleo vai se soltando das outras; e que cada camada dessas vai se desintegrando aos poucos, a começar pelo cadáver físico que deixamos na Terra.
 
        E daí?  Essas pessoas também cultivam seus sistemas mentais, suas simpatias e prevenções, como todos os humanos.  Para o que vem ao caso – as comunicações espirituais - dentre as prevenções / simplificações intelectuais que os teósofos alimentam temos a questão do ‘cascão astral’, que vem a ser: Quando uma pessoa morre deixa para trás o corpo físico e sua aura de energia (as duas camadas mais densas).  As quatro dimensões envoltórias remanescentes vão para a parte do Universo denominada Astral, onde, com o tempo, os três princípios mais sutis se soltam do quarto princípio - do corpo astral – e vão lá para seu céu diáfano, ‘desastralizado’; e esse corpo solto fica como uma casca vazia, boiando por ali, e eventualmente, antes de se desintegrar no Astral, pode entrar em contacto com um médium, ser ativado pelos pensamentos e circuitos energéticos desse médium, e se ‘comunicar’ - dar suas impressões - através do médium.   Esse último, por sua vez, acreditaria estar em contacto com um espírito completo, e não com um simples ‘cascão’ astral.  Assim, para o sistema dessa pessoa esotérica, nada a que se refira como ‘comunicação com os espíritos dos mortos’ terá valor original, genuíno, pode, no muito, refletir idéias alimentadas pelo espírito do médium e ativadas pelo ‘cascão’; não valeria a pena ponderar um pouco mais sobre seu conteúdo, vez que na própria forma etiquetada como proveniente de um espírito já teria ocorrido um erro de definição.  Não é incrível?
 
                 Como último grupo consideremos os Espíritas e afins: A ser verdade o que expusemos acima sobre o raciocínio sistemático, essas pessoas, confrontadas com comunicações originadas de espíritos, não teriam se acomodado a um sisteminha prévio de pensamento, mas teriam avaliado a razoabilidade do fenômeno, inclusive a partir do teor das próprias comunicações, e aceito sua plausibilidade.  Daí em diante elas podem conceber – e é provável que construam - um sistema de pensamento que leve em conta essa possibilidade, e que periòdicamente atribuam a comunicações espirituais eventos que na verdade não o sejam de fato.  Porém, para benefício de sua apreensão da realidade e de seu crescimento emocional e afetivo, ultrapassaram a barreira de sistema, a descrença sistemática por assim dizer, e portanto poderão tranqüilamente usufruir de todo o sentimento e sabedoria que advém de muitas das chamadas ‘comunicações com os espíritos dos mortos’.

 

                 Darcy Othero – 24/08/2010     

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