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Consultorias: Administração ou Prestidigitação?
Muito bem: Não vai aqui uma crítica generalizada aos profissionais honestos do ramo; há firmas de consultoria bem montadas, que dispõem de especialistas e peritos em diversos aspectos do saber econômico-empresarial, e que prestam excelentes serviços a seus clientes. Todavia, para começo de conversa, até hoje ainda se debate se Administração é uma arte ou uma ciência, nas muitas acepções destas palavras. Por algo será ¡
Empresários contratam consultores porque precisam resolver problemas urgentes e - pelos menos pensam que – não contam entre seu pessoal com o conhecimento e a especialização necessários para chegar ràpidamente às respectivas soluções, custe o que custar $$. Aliás as pessoas responsáveis nas organizações precisam se preocupar com os resultados - se serão alcançados - com os processos - se continuam adequados e eficientes - com as motivações do pessoal... até ai, tudo normal. Mas daí a não descobrir o que fazer com a equipe própria e apelar para um xamã engravatado vai uma longa distância.
Como sabemos a crença em mágicas e feitiços não desapareceu no dia em que nossos ancestrais deixaram de se pintar de vermelho, ou verde & amarelo. O tipo de mágica em que se acredita, digamos, 'evoluiu' das pajelanças e leitura dos presságios: Agora temos todo um caleidoscópio de consultorias e especialidades antigas e modernas em oferta no Mercado. Naturalmente seus sacerdotes não se apresentam de tanga, com um tufo de penas na cabeça e balançando um colar de ossos polidos, mas muito bem barbeados, trajando ternos elegantes, no melhor corte inglês, gravatas italianas, no pulso um Rolex reluzente e, se for uma consultora, o tailleur é de rigueur. Não se debruçam sobre uma pira que rescende a aromas inebriantes de onde sairão seus insights definitivos, pejados de divinas verdades, nem sacam uma varinha de condão da sua elegante mala de couro legítimo, mas recorrem a mapas, relatórios e planilhas grafados na melhor impressão eletrônica cabalística à disposição. Suas respostas são aguardadas com expectativa similar à da audiência de um mágico antes que saque um coelhinho branco da cartola.
No mundo corporativo atual o pensamento mágico não se restringe aos crentes nas religiões ou aos portadores de amuletos da sorte. Muita gente bem posicionada na hierarquia administrativa acredita que o profissional de Consultoria traz em sua maleta preta poções milagrosas, uma sabedoria engarrafada em lap tops capaz de resolver qualquer problema.
Então, que venha o Consultor! Sua chegada é recepcionada com calorosos apertos de mão e sorrisos a que só faltam fogos de artifício para virar um comício, e suas palavras são ouvidas numa atitude de adoração que só encontra rival entre um bando de fiéis muçulmanos voltados para Meca; mas àh sua saída segue-se uma sensação de alívio que só encontra paralelo ao final de uma tormenta entre os passageiros de um vôo comercial ¡
E porquê será? O que conhece o Consultor para ou sobre a sua Empresa ou Instituição que provoca essas reações? Existem os conceitos-chaves, desenvolvidos no século passado:
Administração por Objetivos, por exemplo, termo proposto pelo merecidamente consagrado consultor Peter Drucker, na forma e contextos em que trabalhou: Na maior parte das abordagens significa apenas que tem de se ter um fim determinado em vista, e organizar-se para alcançá-lo. Mas praticamente qualquer atividade humana só é empreendida tanto quanto se tenha um fim a alcançar, e os meios para tal mister. Logo, o Consultor que oferecê-la não acrescentou nada a nosso trabalho.
Ou temos aqueles malabaristas que manipulam os ícones da teoria X e da teoria Y, e até da teoria Z. Lembremo-nos que a popular técnica da cenoura e do chicote é uma aplicação simples da teoria X, mas nunca saiu de uso; nem tentar levar tudo na brincadeira que no final dá tudo certo, como propõe a teoria Y. Os consultores são expertos o suficiente para saberem disso também.
Brainstorming ainda retém um certo charme, especialmente se for para transformar uma reunião executiva numa sessão de espasmos e risadas.
Já o grid gerencial - aquela armação retangular, um quadrinho com quatro campos para lançarmos o que quisermos - onde os funcionários e seus comportamentos são plotados como num jogo de dardos de acordo com suas características - mais ou menos sentimentais, ou extrovertidos, ou tarefeiros, ou tagarelas, ou o que queiramos – esse não sai de moda: É prático, atraente, 'visual' ao extremo, qualquer um entende o que queremos demonstrar. E rende honorários fantásticos a seus promotores.
E os fatores higiênicos de Herzberg? São uma panacéia para se economizar com custos (se um ambiente de trabalho confortável e aumentos salariais não motivam a mão-de-obra, então ministremos-lhe doses crescentes de reconhecimento, responsabilidade, realização, nem que seja na forma de diplomas de honra ao mérito...).
Headhunters (caçadores de cabeças) são particularmente exasperantes como consultores: Se o cara entrevistado por um deles não estiver trabalhando tranqüilo e satisfeito na concorrência, não serve para seu misterioso cliente...
Porém há uma mística de ostentação envolvida aqui: O prestígio da empresa ou instituição-cliente fica demonstrado em relação direta com o renome da Consultoria contratada, bem como quanto a qual é seu escritório de Advocacia, ou sua Auditoria Independente... São como os estilistas e cabeleireiros de madames – há quem prefira o termo 'peruas': Investe-se em imagem, mais do que em performance, pois essa deveria estar garantida pelo valor de seus emolumentos monumentais, o que nem sempre é o caso...
No mais, sem novidades, até o dia em que a arte da Administração seja devidamente compreendida como ciência, desenvolvida em seus aspectos psicológicos, sociais, holísticos mesmo...
Darcy Othero – 08 / 06 / 2010